J. K. Rowling conjurou por 13 anos todas as mandingas, todos os instrumentos e palavras mágicas, todas as ervas, símbolos (desde os objetos aos bichos), lugares de poder, representantes do mal e do bem já conhecidos por nós no Ocidente há séculos. Usou os quatro elementos representados nos objetos buscados por Harry, que reverberaram em seu cotidiano através das relações com os outros. E ela parece ter planejado tudo: desde o latim inventado de Hogwarts até os atores que iriam se encaixar melhor na versão cinematográfica. Mas será que tudo mesmo tinha o dedo dela?
Será que até o dia da estreia de Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 2 nos EUA e Brasil foi planejada especialmente para que os iniciados confirmassem algo de antemão? A insistência de nos novos pôsteres do filme aparecer simplesmente “It all ends 7.15” teria sido de propósito? Sim, pois ao fazermos a somatória dos números que compõem a data de estreia, o resultado é 13 (7+1+5), o que corresponde ao Arcano 13 do tarô, que é… a Morte. A propósito, a estreia em Londres foi dia 7/7, que daria o Arcano 14 — Temperança –, que, somado com 2011, daria o Ermitão.
Contudo, é aí que vem aquela “magia” da obra de ficção, da obra de arte, aquilo que escapa das mãos do(s) autor(es): a riqueza da narrativa, que cativa tanto a mente dos admiradores, transcendendo a razão e a lógica chata. E olha, a Temperança e o Ermitão fazem ressonância com este capítulo final de Harry Potter, mas se eu contar aqui, além de fugir demais do assunto, vou lançar muitos spoilers…
O jogo de morte empreendido neste capítulo tem tudo o que se pode esperar da jornada de um heroi: perseguição, revelações bombásticas, batalhas espetaculares, frases filosóficas e, claro, perdas. Porém, está menos sombrio que a Parte 1, mais dinâmico, não faltando sequer o humor inglês ácido, justamente com o tema da morte. Às vezes achava que os personagens repentinamente cantariam “Always look on the bright side of life”. Vocês não podem deixar passar essa oportunidade de presenciar o encerramento da narrativa heroica e popular de maior sucesso da nossa recente história, na tela grande com óculos 3D.
Lembro-me de ter reparado no primeiro filme de Harry que ele se apresenta aos amigos no trem dizendo, “My name is Potter, Harry Potter”, obviamente remetendo quase que cinicamente a outro dos mais famosos herois da tradição inglesa. Ali já se via o charme do personagem, o carisma do ator, bem como o tom de aventura forte que a história iria ter.
Render-se à saga de Harry Potter não é nada de mais. É simples, é divertido e natural. Tudo nele foi sucesso: os livros e os filmes. O despertar de sua vida de menino nos emocionou, nos arrebatou, nos fez torcer por ele. O desenvolvimento de sua vida de bruxo nos fascinou, nos deu medo, nos hipnotizou e nos fez reviver nossas fantasias mais recônditas. Os livros deram um impulso no hábito de leitura dos jovens. Os filmes trouxeram e formaram um outro tipo de espectador, criou um estilo, uma franquia.
Mencionei em meu texto sobre Harry Potter e o Enigma do Príncipe dados históricos e simbólicos sobre toda a saga de Harry. E, escrevendo sobre Relíquias da Morte, 1, revi com vocês a trajetória cinematográfica, tentando prever o finalíssmo-final. E acho que consegui acertar algumas previsões sobre J. K. Rowling. Já viram a carona que ela pegou junto ao lançamento deste último filme? Rowling lançará em breve Pottermore: um site em que leitores descobrem partes inéditas e ajudam a reconstruir a história de Harry, ao que parece numa tentativa de enriquecer a leitura de narrativas por via digital (veja o anúncio especial). O portal será aberto ao grande público em outubro e, para os “escolhidos”, já no início de agosto. Mas tem de seguir as corujas…
Harry Potter passou por nossas vidas e nos deixou marcas, não há como escapar disso. Aceite ou não, você vai ter de ouvir isso durante anos daqui para frente. Outras coisas virão? Sim, claro. Mas mesmo que se recrie o mito, há algo de único em Harry Potter que jamais será substituído — como em seus antecedentes, de Rei Arthur a James Bond.
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